A morte de Mestre Woo, aos 93 anos, marcou o fim de uma trajetória profundamente entrelaçada à vida cultural e espiritual de Brasília. Internado em um hospital particular após sofrer um infarto, ele teve o falecimento comunicado neste sábado (6/12), encerrando uma história iniciada muito antes de sua chegada ao Brasil. Nascido em 3 de março de 1932, em Chiayi, Taiwan, então sob domínio japonês, mudou-se para a capital federal em 1968, onde consolidou uma obra que ultrapassaria gerações.
Foi na Praça da Harmonia Universal, na Asa Norte, que Mestre Woo reuniu, durante mais de 50 anos, praticantes do movimento Tai Chi Being Tao. Ali, transmitiu os princípios de equilíbrio entre corpo, mente e espírito, guiado pelo lema “Fraternidade, Saúde e Paz”. Formou milhares de facilitadores e contribuiu decisivamente para que o Tai Chi Chuan se tornasse parte da rotina de diversas comunidades do Distrito Federal.
Sua atuação, porém, não se limitou às artes marciais. Mestre Woo ensinou língua japonesa na Sociedade Cultural Nipo-Brasileira e foi o primeiro professor de chinês e japonês do Instituto Rio Branco, além de introduzir práticas da medicina tradicional chinesa na capital. Naturalizou-se brasileiro no ano 2000, durante as comemorações dos 500 anos do descobrimento do país. Professor, médico, monge, poeta e arquiteto, cultivou uma presença múltipla, admirada e reconhecida.
A relevância de sua atuação rendeu homenagens ao longo das décadas. Em 2006 recebeu o título de cidadão honorário de Brasília. Em 2024, a Câmara Legislativa do Distrito Federal realizou sessão solene celebrando os 50 anos do movimento por ele fundado. Já em 2025, o Governo do Distrito Federal o condecorou com a medalha do mérito comunitário, e a Federação de Wushu do Distrito Federal promoveu a Copa Mestre Woo de Wushu em sua homenagem.
Entre os muitos alunos e discípulos que guardam lembranças de sua convivência, está Yara Marcia Almeida Costa, que conheceu o Tai Chi ao mudar-se para Brasília, em 1998. Ela recorda o impacto do mestre em sua vida: “Mesmo sendo esperado, dói muito. Ele era uma fortaleza. Nunca mais deixei o Tai Chi. Para mim, o Tai Chi é vida. Ele vive, para sempre, em cada um de nós”.
Também a professora aposentada Susana Lima destacou o papel iluminador do mestre ao longo dos anos. “O nosso amado Mestre Woo foi como um farol… um ser de muita luz a nos guiar pelos caminhos do Tao”, disse. Emocionada, ressaltou a generosidade do pioneiro, que abriu espaço para que toda a comunidade treinasse com ele e, depois, formasse novos instrutores que levariam a prática para diversas quadras da cidade.
O adeus a Mestre Woo encerra uma vida marcada pela dedicação ao bem-estar coletivo e pela construção de uma cultura de paz. Seu legado, espalhado por milhares de discípulos e praticantes, permanece vivo nas manhãs de Tai Chi que seguem colorindo Brasília.





