Sai o alvo de papelão, entram hologramas que se movimentam e reagem como pessoas reais. A cena, que parece saída de um filme de ficção científica, já começa a fazer parte da realidade de agentes de segurança brasileiros. Durante o Fórum Segurança do Amanhã, realizado nos dias 24 e 25 de junho, em Brasília, profissionais da área conheceram uma inovação desenvolvida no país: o uso de realidade mista, inteligência artificial e óculos de realidade aumentada no treinamento de policiais e bombeiros.
A proposta é ambiciosa — e inédita no Brasil. Por meio dos óculos, os agentes são imersos em cenários virtuais com alto grau de realismo, onde enfrentam situações de risco sem expor suas vidas. A ideia é aumentar a eficiência nas operações, reduzir falhas e permitir que os profissionais estejam mais bem preparados para agir com equilíbrio, precisão e dentro da legalidade.
Responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, o diretor de inovação da startup Hololab, Alexandre Vasques, explica que a solução já foi inspirada em modelos usados por forças dos Estados Unidos e de Israel, mas com um diferencial: é o único sistema no mundo que integra o uso da arma real dentro da simulação. “Não é videogame. São cenas reais. O policial interage com hologramas de pessoas reais, que reagem ao ambiente, e pode utilizar sua própria arma, com munição real, em ambiente controlado”, explica.
Além disso, a inteligência artificial embutida no sistema permite reconhecer padrões de comportamento, analisar a postura do agente durante a abordagem e até fazer o reconhecimento facial e a leitura de placas de veículos. Isso significa que, mesmo em operações reais, o equipamento pode ajudar a identificar pessoas com ficha criminal ou veículos roubados, em tempo real.
Para o instrutor de tiro da Polícia Civil de Santa Catarina, Júlio César Saldanha, que testou o equipamento durante o evento, a ferramenta representa um salto de qualidade na formação dos agentes. “É fascinante o que essa tecnologia pode trazer. A gente treina o controle do estresse, simula reações reais e ainda consegue adaptar o cenário conforme a situação. Isso muda tudo”, afirma.
Santa Catarina deve ser o primeiro estado a utilizar o sistema de forma efetiva. A previsão é que isso aconteça em até três meses. O custo médio por unidade é de 500 mil reais, e a expectativa é que outros estados sigam o mesmo caminho. No Distrito Federal e na Polícia Rodoviária Federal, a inovação já é aguardada com entusiasmo.
O diretor de operações da PRF, Marcus Vinícius, confirma que a instituição já havia iniciado estudos sobre o uso da tecnologia, mas o projeto estava parado. Agora, com os testes retomados, a intenção é implementar o sistema nos treinamentos da corporação.
Outro diferencial é a possibilidade de treinamento remoto: policiais de diferentes estados podem participar das mesmas simulações, sem que estejam fisicamente no mesmo lugar. A inovação nacional, nascida de uma startup, pode transformar a forma como o Brasil prepara seus profissionais de segurança — e marcar o início de uma nova geração de capacitação, onde o real e o virtual trabalham juntos para salvar vidas.