Fomos educados para resistir. Para engolir o choro, esconder o medo e chamar a dor de “cansaço”. Crescemos ouvindo que homem de verdade suporta tudo — e, sem perceber, muitos de nós passamos a suportar até o insuportável.
Neste Novembro Azul, quando o foco se volta para o câncer de próstata, é tempo de ampliar a conversa. Porque o silêncio masculino sobre a dor não é apenas um traço cultural — é um risco de vida. Não relatar o que se sente, tentar “aguentar firme”, pode atrasar diagnósticos de doenças graves, inclusive cânceres em estágios iniciais, e abreviar uma vida que poderia ser salva com um simples gesto: falar.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 30% da população mundial vive com dor crônica. No Brasil, um em cada cinco homens convive com dor persistente — mas grande parte nunca buscou tratamento. “Homens também sentem dor crônica, mas costumam demorar mais a procurar ajuda médica. Muitos ainda veem a dor como um sinal de fraqueza — o que atrasa o diagnóstico e o início do tratamento”, explica o Dr. Carlos Gropen, fisiatra e especialista em dor.
A dor crônica é aquela que ultrapassa o tempo da lesão. Persiste por mais de três meses e deixa de ser um simples sintoma para se tornar uma doença independente, que altera o humor, o sono, o metabolismo e até a forma como o cérebro percebe o corpo. Lombalgias, enxaquecas, neuropatias e artroses são apenas algumas de suas formas — todas exigem acompanhamento constante e um olhar clínico atento.
Mas não é apenas o corpo que fala: a mente também grita. Estresse, ansiedade e depressão não são apenas consequências da dor — são amplificadores potentes que a mantêm viva e resistente ao tratamento. “O manejo da dor precisa ser multidisciplinar, envolvendo medicamentos, fisioterapia, terapias complementares e suporte psicológico. O objetivo é restabelecer o equilíbrio e a funcionalidade do paciente”, reforça o Dr. Gropen.
O autocuidado, longe de ser vaidade, é uma forma de inteligência. Alimentar-se bem, dormir com qualidade, manter atividade física regular e procurar um médico diante de uma dor persistente são atitudes de maturidade, não de fraqueza. Afinal, coragem não é suportar o sofrimento — é reconhecê-lo a tempo de transformá-lo.
“Cuidar da dor é cuidar da saúde. Procurar ajuda não é sinal de fragilidade, mas de responsabilidade consigo mesmo e com quem se ama”, conclui o Dr. Gropen.
Neste Novembro Azul, o convite é claro: quebrar o silêncio é um ato de sobrevivência. Dor também é linguagem — e ignorá-la pode custar caro. Que os homens aprendam, enfim, que a verdadeira força não está em suportar tudo, mas em saber quando é hora de cuidar-se.
Por Dr. Gropen
Médico fisiatra e especialista em dor
IBDOR – Brasília





